Caderno de anotações

Larissa Janelli
3 min readApr 12, 2022

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Eu costumo ser extremamente metódica com algumas coisas. Faço isso porque sei que, se não tiver um sistema bem claro, eu me perco. Eu sou assim com a minha agenda, por exemplo. Uma agenda organizada é a única garantia de que eu realmente consiga visualizar e comparecer aos meu compromissos. Mas, quando se trata de anotações, tudo se torna um caos.

Eu tenho uma mente bastante acelerada, com vários pensamentos e devaneios por minuto (obrigada, TDAH, por esta dádiva). Muitas vezes, pra não perder o fôlego de um insight, eu anoto. O problema é que eu não tenho nenhum sistema sobre o fluxo de anotações que eu faço e muitas vezes acabo perdendo meus escritos. Mas, particularmente, eu vejo certa beleza nesse caos. Da mesma forma que anotações são perdidas, elas também podem ser achadas.

Hoje, pela manhã, eu queria organizar minhas tarefas e não achei o caderno que, inicialmente, estava à mão nos últimos dias. Portanto, abri meu armário e peguei um outro que estava guardado. Enquanto folheava em busca de uma folha em branco, me deparei com um versinho que havia escrito em algum momento. Achei graça porque lembro exatamente do contexto em que havia escrito isso. Lembro tão bem que consegui recuperar o ritmo no qual eu havia escrito tais palavras, seguida de desenhos que reforçavam as emoções que eu sentia.

Naquele contexto, ainda estávamos num cenário bem pessimista da pandemia e eu estava questionando a minha existência. E esse caderno me acompanhou em boa parte desses questionamentos, e até ao início de algumas transições (tem inclusive anotações sobre processos seletivos e algumas reuniões do meu primeiro emprego em São Paulo).

Revistar essas anotações — e todas essas questões atreladas a elas — me fizeram refletir sobre o quanto o incômodo e a consciência foram importantes para uma mudança significativa. Colocar o nosso “eu real” em perspectiva com o nosso “eu ideal” pode trazer alguns insights estratégicos para buscar aquilo que queremos.

É engraçado olhar pros meus fluxos de pensamentos de alguns anos atrás e reconhecer, com certa distância, as problemáticas em que estava imersa. Claro que a graça só existe porque hoje eu tenho o conforto de saber como aquelas situações caóticas se sucederam (uma coisa que a minha mente ansiosa tentava fazer ali, mas não conseguia).

Particularmente, acho fascinante perceber a minha evolução pessoal, principalmente quando muitas vezes recorri àquelas páginas para tentar desgarrar sentimentos que estavam entranhados no meu peito. Acho lindo conseguir olhar para aquilo tudo sem deslegitimar o que eu sentia, mas com o acolhimento e a percepção de que estava dando o meu melhor, com todos os recursos e possibilidades que eu tinha consciência ali.

Ter esse discernimento também acaba sendo um exercício de auto-compaixão pro momento presente. Constantemente, nos pegamos pensando “Can we skip to the good part?” (Podemos pular para a parte boa?), mas esquecemos o quanto o presente que vivemos também já foi sonhado.

Talvez seja difícil perceber isso porque esperamos que os “dias de glória” estejam isolados num capítulo reservado ou até em um livro diferente, como nessa tirinha que meu amigo Igor me mandou. Mas parece que, assim como eu, a vida também tem certa dificuldade de organizar seus escritos, então é preciso revisitar nossos “dias de luta” e encontrá-los por si próprio nas entrelinhas das nossas histórias.

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Larissa Janelli

Designer em horário comercial e TDAH o tempo todo. Também gosto de escrever, estudar e pular corda.