Larissa Janelli
1 min readNov 27, 2022

Hoje eu chorei. Chorei de raiva. Chorei de cansaço. Chorei por estar 5h30 da manhã de domingo levantando pra trabalhar. Chorei por não ter dinheiro na conta. Chorei por não ter dinheiro pra comer. Chorei porque estava indo sem saber como iria voltar. Chorei por ter apenas a passagem de ida.

Chorei por orgulho. Chorei por frustração. Chorei porque eu pensava que sabia exatamente o que estava fazendo da minha vida. Chorei porque percebi o tamanho dessa mentira que eu contei pra mim mesma.

Chorei por não conseguir mais trabalho, mesmo me matando de trabalhar todos os dias. Chorei por não conseguir descansar. Chorei por não conseguir olhar pra frente.

Chorei. Às sete da manhã de domingo, parada na avenida São João. Chorei porque não passava ônibus. Chorei por estar atrasada. Chorei por estar sozinha.

Chorei um choro calado. Tímido. Internalizado. Chorei com a cara séria de quem aguarda a condução entediada. Chorei nas minhas entranhas. Chorei visceralmente um choro seco, de quem já não tem mais lágrimas. Esperneei em grito silencioso, abafado pelo som da cidade. Dos carros. Dos ônibus. Do tráfego.

Por fim, uma lágrima quente escorreu dos meus olhos. Sem sequer conseguir chegar ao queixo. Interrompida. Silenciada.

Limpei o rosto. Pus a máscara. Entrei no ônibus. Engoli todo esse choro mais uma vez pra dar o meu "bom dia" mais sorridente ao motorista.

"Dia bonito, hein, piloto?"

Larissa Janelli

Designer em horário comercial e TDAH o tempo todo. Também gosto de escrever, estudar e pular corda.