Respirando junto ao mar
Eu gosto de ir à praia. Mais do que simplesmente pôr o meu biquíni e pegar sol, eu gosto de pôr meus pés desnudos no chão e sentir eles serem abraçados pela areia. Eu gosto de esticar minha canga, sentar no chão e contemplar o horizonte. Mas, mais do que tudo, eu gosto de perceber o mar e assistir às ondas.
Você já reparou nas ondas? Elas sempre chegam à praia uma de cada vez. Penso que elas são o mar respirando. Como ele pudesse inflar sua caixa torácica em uma inspiração profunda e depois soprasse, esticando as suas águas o mais longe que o seu fôlego permite. Então, ele se recolhe, trazendo de volta suas águas para repetir tudo isso de novo. Ele infla, sopra, se expande e, então, se recolhe. Sempre de maneira ordenada, trazendo à areia uma onda por vez.
Estar perto do mar me faz me concentrar no agora. Como um “detox” dos meus pensamentos sempre acelerados, percebo que a minha atenção se solta de tudo que passou ou está por vir. Consigo perceber a textura da areia nas minhas pernas. O toque do vento na minha pele. O ruído das conversas banais dos transeuntes. A imensidão do horizonte infinito. E, enfim, o som das ondas do mar.
Frequentemente me pego coordenando a minha respiração com as águas. Prendo minha atenção num ponto fixo e, quando percebo, eu e o mar respiramos juntos. Uma onda de cada vez. Não existe nada mais que vento, areia, calor e maresia. Há somente eu e o mar.
Assim, retomo a importância da coisa mais preciosa — e que eu tinha esquecido perdida ali no meio da rotina asfixiante da vida corrida: a capacidade de parar e respirar. Apenas. E, de repente, tudo volta a fluir novamente. Como as ondas do mar.
